29 abril 2009

Crescer com alguém

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Estou mais irregular na escrita, estes dias, por causa da canonização de S. Nuno, que trouxe a Roma muitos portugueses e, por isso, estive a acompanhar alguns amigos que vieram cá. Foi uma cerimónia muito bonita, e ouvir falar português pelas ruas é sempre uma experiência original!

O facto de ter estado com algumas pessoas e, sobretudo, a experiência de recordar momentos e tornar presente amizades, fez-me cair na conta de algo tão importante, que é pena que não me lembre disso mais vezes.

Creio ser praticamente impossível fazer uma lista completa das pessoas que fomos tocando nas nossas vidas. Talvez porque o bem que fazemos, por vezes não nos damos conta disso. Um abraço ou uma certa palavra num determinado momento da Vida de alguém pode ser uma experiência muito libertadora. Mas aqueles com quem vamos construindo uma relação, vamo-nos apercebendo, com o passar do tempo, que vamos ficando pessoas diferentes.

Não só porque cada dia acrescenta coisas novas, mas porque eu cresci com algumas pessoas e algumas pessoas cresceram comigo. E, por ser exactamente com essa pessoa, sou diferente e mais completo de um modo que não seria se fosse uma outra pessoa. Isso é uma responsabilidade e um dom. Deveríamos perguntar-nos qual a qualidade daquilo que damos e fazemos pelos outros, como alguém fica melhor, e brilha mais, por nossa causa.

23 abril 2009

Despojamento

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(Sugestão de Catarina)

Regresso aos temas que me vão sugerindo, estes últimos dias ainda não tinha tido tempo para reflectir um bocado sobre eles, e hoje escrevo sobre o despojamento, que pessoalmente é um tema que me questiona muito!

A primeira imagem que me veio foi sobre ouvir histórias de jesuítas de antigamente que, quando iam para a teologia, que se fazia também no estrangeiro, levavam com eles apenas uma mala de mão com tudo o que precisavam. Também é verdade que na altura se usava a batina e bastava uma para vestir enquanto a outra estava a lavar =). Mas quando vim para Roma mandei por transporte nove volumes de coisas... e que é muito, talvez exagerado, vendo colegas meus que chegavam com duas malas, já que vinham de longe. E cada vez que vou de férias, é uma dificuldade enorme gerir os 20 kg de peso a que tenho direito! Sempre me pergunto nessas alturas porque preciso de tantas coisas?

A vida de hoje, estou convencido que nos obriga a ter muitas coisas: computador, roupa para diversas ocasiões, livros, objectos que nos fazem falta, para além daqueles que levamos connosco para todo o lado. Creio sempre que o grande desafio está no modo como nos relacionamos com as coisas, sobretudo como a falta de determinada coisa pode perturbar a minha paz interior. Tudo o que é perturbação interior é sinal de falta de liberdade. Talvez esse seja o critério que me pode ajudar a ter mais claro o que é essencial e o que é acessório. Se tenho medo de perder algo, é porque, de certo modo, a minha felicidade não está a passar pelo caminho melhor.

Tenho o hábito de fazer peregrinações, porque me ensinam muito sobre a Vida. A recomendação que se faz para quem caminha vários dias com a mochila às costas é: levar 10% do próprio peso. Tudo aquilo que for a mais, durante o caminho vai ser um fardo cada vez mais difícil de levar. E é bem verdade! Por duas vezes levei peso a mais e reparei que, no fim, levei coisas que não cheguei a usar e paguei um maior cansaço por isso. Aprendi que aquilo que é a mais não me ajuda a caminhar, distrai-me, torna-me mais lento, fico menos livre para olhar o que está à minha volta sem me estar a lamentar.

É por isso que o despojamento é algo irresistível para uma vida de maior qualidade. E despojamento pode não ter um significado de austeridade ou privação voluntarística. É uma questão de ir percebendo que uma vida mais simples me deixa mais espaço para a alegria e para estar comigo e com os outros de uma forma mais luminosa. Faz-nos menos calculistas. Mais agradecidos.

O despojamento material e psicológico estão ligados. Talvez seja mais fácil ter noção daquilo que posso ou não posso ter, o que ajuda à minha sobrevivência, ao meu trabalho,à minha cultura e ao meu divertimento. Mas acredito que fazer o exercício de um dia deixar de ter algo, ou não comprar alguma coisa, ou então dar a quem precise, mesmo que doa cá dentro, isto prepara o coração para uma atitude mais aberta e livre. Se me habituar a perceber nas coisas materiais que o essencial chega para aquilo que preciso, também irei perceber que a Vida tem outro sentido e outra alegria se for mais simples, mais directa, sem tantas distracções.

Isso também vale para o despojamento no modo de nos relacionarmos com os outros. Se não calcular propostas e respostas, se for eu próprio no modo como me dou, talvez me exponha mais, mas sou mais transparente. É tão bom não sermos pessoas complicadas!

22 abril 2009

Descanso

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Não é possível chegar àquele ponto em que podemos ver num dia tudo resolvido, arrumado e escrito, e estarmos prontos, sem mais nada, para aquilo que virá. Há sempre algo que acontece e que rompe uma programação já feita. Insistir demasiado em conseguir fazer tudo o que está pendente ajuda a evitar a preguiça e o deixar-andar, mas também nos sujeita a gastar energias que não vale a pena.


O elemento surpresa tem sempre esta coisa de ser boa e menos boa. Quando nos convém, não há nada melhor que um bom imprevisto... mas nem sempre é assim, as coisas que nos ocupam e nos dão mais cansaço tendem a arrastar outras. E quando tudo estava encaminhado, abre-se mais uma janela de uma paisagem que não me apetece ver.


E como viver com isto? Descansar. Não se preocupar mais com o que o dia já de si oferece. Ter um tempo perdido e ganho para mim, ver além das surpresas a certeza quotidiana de dons que tenho só porque respiro e novidades que acontecem só porque caminho.

19 abril 2009

Salto

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Tenho andado a pensar muito estes dias acerca da confiança. Há determinados momentos da nossa Vida que sentimos alargar de tal forma o nosso horizonte que tudo nos parece ao mesmo tempo próximo e distante. Aquilo que apreendemos nos olhares sobre o nosso futuro são apelos a situações onde nos veremos daqui a uns dias, semanas, meses ou anos. Temos presentes paisagens diurnas e nocturnas, praias, desertos, cidades e montanhas. Algumas onde brilha o sol que nos aquece e outras onde o vento frio nos faz perder a coragem. Corremos e recuamos, observamos e damos gritos de força.


Vemos tudo sem ainda possuir nada. É um motor e uma energia do nosso amor e das nossas capacidades criativas. E assustamo-nos com sombras e fantasmas que sabemos poderem ser bastante reais. E o nosso aqui e agora perde em profundidade. Ficamos situados numa linha de tempo que nos atira como uma flecha para lado nenhum.


A confiança é a atitude do presente. É um salto sobre um abismo, com o risco de cair, antes de alcançar um horizonte possível, sonhado ou imaginado. Um salto é um risco, e é cair em profundidade. Espaço da alma onde posso acolher e pacificar um olhar sereno sobre tudo aquilo que sou agora. Seja o que for, virá, hoje quero ser o que me compete.

18 abril 2009

O que sou

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Hoje gostaria de me tentar convencer a mim mesmo que a perfeição não é um trabalho e uma luta constantes. Custa a acreditar que a meta está próxima, quando cada dia nos damos conta que alguma parte de nós perdeu algo importante. Não avançamos completos, mas no esforço de trazer atrás de nós pedaços de Vida que gostaríamos de ter deixado para trás há muito tempo.


A minha casa é o lugar onde posso arrumar as coisas como quero. Deixo as obras de arte na prateleira, os diplomas na parede e as coisas feias escondidas em caixas debaixo da cama. Convivo entre ilusões e poucas coragens, para ver tudo e abrir cada significado da Vida. Uma casa bem arrumada pode implicar escondimento, ambientes de visita, mostrar o que sou, mas não tudo.


Porém, não consigo esquecer aquilo que escondo e cada dia desejo ir lá, tirar para a luz, limpar, colocar no centro da mesa. E perguntar: porque te assustas? Temos medos muito ridículos, quando não sabemos olhar com gestos corajosos e uma alma enorme. Perfeito. Não sei porque não posso admitir que o sou. Nada é pesado, nada é feio, nada fica escondido, se... se quiser que todos os pedaços de mim sejam meus, e se quiser que toda a luz que tenho ilumine.


Como a luz do sol, que acaricia todas as coisas.

15 abril 2009

Regresso

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Ontem foi a ordenação diaconal dos meus companheiros de comunidade, aqui na Igreja do Gesù. Foi também ordenado o Afonso, que é o jesuíta que viveu mais anos comigo na mesma comunidade, o que acrescentou muito a minha alegria! =)


Desta vez, eu não estava nos bancos da frente, mas do outro lado do altar, a celebrar como diácono. É inevitável que não viajasse um ano atrás, ao dia da minha ordenação e não recordasse aquilo que vivi e rezei, como sonho e promessa cumprida. Ao mesmo tempo, dei-me conta dos poucos progressos que fiz, mas sobretudo do muito que Deus fez em mim.


O momento mais importante, para além da emoção de os ver a serem ordenados, foi quando desci com o bispo para dar um abraço aos novos diáconos, como sinal de boas-vindas à ordem. É um gesto de acolhimento numa história que ultrapassa os séculos e que se faz presente ali. Somos pequenos e ao mesmo tempo tão privilegiados! São os nossos dons que entram ao serviço dos outros, e isso desafia-nos a ser melhores e mais eternos. Parabéns! =)




Foto dos neo-diáconos. Atrás, da esquerda para a direita: P. Joseph Daoust (Delegado das Casas Romanas), Marjan (Eslovénia), Petr (República Checa), Sebastian (Alemanha), Mons. Piero Marini (Bispo), P. Janez (Reitor da comunidade), Flavio (Itália) e Afonso (Portugal). À frente, da esq para a direita: Léonard (Madagascar), Paul (Estados Unidos), Oleksiy (Ucrânia), Rogério (Brasil), Gabriele (Italia) e Joachin (Madagascar).



E, já agora, também eu! ;)

12 abril 2009

Vida Nova

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Qual é a certeza que temos da ressurreição? Há uns anos atrás, era esta a minha questão principal. Às vezes, é bom pormos em questão as coisas que nos habituamos a acreditar sem nos termos perguntado o porquê. De facto, a ressurreição de Jesus não teve testemunhas, para além do grupo dos discípulos que depois tiveram algumas experiências de O terem visto vivo. Mas isso poderia ter sido qualquer ilusão...



Mas olhando a história simplesmente, dá-se conta que não houve nenhum movimento religioso que, no espaço de 50 anos, se tivesse espalhado por todo o mundo conhecido da altura. O que teria acontecido para que um grupo de homens e mulheres judeus, de baixa condição social, tivessem anunciado que alguém com quem contactaram fisicamente tinha ressuscitado e este era o Filho de Deus? Na mentalidade judaica, isto era impensável. Além disso, este anúncio era feito no meio de perseguições e quase todos os apóstolos morreram mártires por causa disso. Deveria ter sido uma experiência de tal modo forte, que os obrigava a não estar calados, mesmo à custa da própria vida. Esta para mim é uma prova muito grande da ressurreição.



Mas o que isso poderá dizer-me hoje? Faz-me crescer num optimismo sem fim, acreditar que serei feliz e completo, apesar de tudo. A ressurreição não é uma espécie de momento mágico que apaga a dor e a tristeza. O corpo de Jesus ressuscitado tem as marcas da paixão. É toda a nossa história, e a história de cada dia que pode ser hoje, já, transformada em Vida Nova, com criatividade, entrega e desejo de nos superarmos. São estes os sinais mais claros que podemos viver já como ressuscitados.


10 abril 2009

Mistério da paixão

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É inevitável que esta semana santa, aqui em Itália, esteja marcada pela tragédia que aconteceu no dia 6, em Aquila, Abruzzo. Tenho seguido muito o que vai acontecendo, não tanto por ter sentido o tremor de terra aqui em Roma, que não teve consequências para além do susto normal destas situações, mas por saber que a poucos quilómetros daqui vivem-se momentos de dor e sofrimento muito grandes.


O mistério da morte de Jesus não é, de modo nenhum, um acontecimento longínquo, que celebramos de forma mais ou menos tradicional. É algo que está muito presente em cada dia. Simplesmente, não há explicações para dar nestas alturas. Vive-se um silêncio de incompreensão, de tristeza, de não conseguir perceber o porquê. O que tenho rezado, para além de rezar pelas vítimas deste terremoto, é o modo como Jesus se torna presente.


Acredito num Deus que assumiu a nossa condição humana. Que levou até ao limite a nossa existência. É muito óbvio ver Jesus nos rostos de quem perdeu a família, a casa e todos os seus bens. Jesus morreu abandonado pelos seus amigos, foi despojado da sua dignidade, sofreu um julgamento injusto e uma morte atroz. Porque Ele quis que fosse assim. Para que percebesse e experimentasse na pele os meus pequeninos dramas e os dramas imensos de quem sofre, como estas pessoas de Aquila.


É isto que me fascina mais na minha fé. Um Deus totalmente próximo, que me percebe e acompanha em tudo o que me possa acontecer. Nisto há uma misteriosa fonte de esperança e Vida. Vendo as centenas de voluntários civis, não so os bombeiros ou a protecção civil, que trabalham e escavam, até com as próprias mãos, na tentativa desesperada de ainda encontrar alguém vivo... não é este um sinal de que a Vida e o Amor vence a morte? De como somos capazes de coisas grandiosas e que nos poêm tão fora de nós?

06 abril 2009

Porquê confessar-se?

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(Sugestão de Caramela)

Se bem que ainda tenho outros dois temas para falar, e penso fazê-lo estes dias, resolvi responder a este último desafio, por ser na semana santa, que é um momento em que muitos cristãos se aproximam da confissão. Poderia falar muitas coisas sobre o sacramento da confissão, ou da reconciliação - pessoalmente prefiro esta designação -, das suas origens, o desenvolvimento porque foi passando ao longo da história até à forma em que chegou a nós hoje, ou como se desenvolve esta celebração. Mas acho mais importante focar o ponto principal, porque nos confessamos?


É, de todos os sacramentos, provavelmente o mais difícil de entender e o mais criticado. Acho que também, infelizmente, más experiências com alguns confessores ajudam muito a isso. Com coisas que tenho ouvido, não me espanta que haja pessoas que ficam 20 anos sem se confessar! Num momento que já de si é de fragilidade e manifestação da própria vida, ser sujeito a críticas condenatórias ou interrogatórios morais é muito triste. Neste caso, acho que devia ser mais claro que as pessoas deveriam saber que têm o direito de parar a confissão e fazer queixa desse sacerdote a um seu superior. Talvez nisto apresente um tom mais duro, mas acredito muito que a reconciliação é um momento de acolhimento, paz e perdão, e que esta atitude se deve manter sempre, mesmo nos casos particulares em que o confessor achar que, para bem da pessoa, deve ser mais exigente com ela.


Um outro aspecto que normalmente vem apontado à confissão é o facto de ser suficiente confessar directamente a Deus os próprios pecados e assim ter o seu perdão. Estou de acordo, porque também acredito que Deus ouve e atende as orações e os pedidos que lhe fazemos e, se lhe pedimos perdão, Deus perdoa-nos, como é próprio do seu modo de ser e agir connosco. Mas concordar com isto não quer dizer que seja suficiente, e explico porquê.


O pecado não é ter faltado a uma regra do catálogo das nossas virtudes e do nosso bom comportamento. É falta de amor, que é o egoísmo: sempre que não amamos, que fomos egoístas, que fizemos de alguém objecto do nosso interesse, que não respeitámos a beleza de nós próprios e do mundo, no fundo, quando fomos mais pequenos do que os gestos amorosos nos pedem. E quando em todas estas coisas temos consciência de que somos responsáveis pela falta de qualidade de qualquer acto, palavra ou pensamento. Quando amamos menos, ou quando pecamos, não é só a minha própria consciência que fica mal, mas alguém ou alguma coisa do mundo perdeu algo com a minha falta de amor. As primeiras comunidades cristãs tinham este aspecto muito presente e, por isso, a confissão e o perdão eram públicos, porque o pecado de um afectava a todos. Entretanto, a confissão foi-se tornando algo mais privado até chegar ao que temos hoje, em que o padre é o representante da comunidade e das pessoas a quem directa ou indirectamente, como expliquei, deixamos de dar o nosso amor. Por isso, em relação a este primeiro aspecto, é muito mais forte o facto de ter alguém concreto a quem expor os pecados.


Ligado a isto, o facto de ter de exprimir verbalmente os aspectos mais "escuros" da nossa vida, obriga-nos a um exercicio de verdade connosco mesmos e reconhecer que há coisas em nós que não nos fazem bem e não nos libertam. E essa verdade faz-nos estar arrependidos e querer mudar. Não há verdadeira mudança na nossa vida se um dia não temos a coragem de enfrentar aquilo que não gostamos em nós. E podemos arrastar-nos meses e anos com angústias que poderíamos ter entregue e abandonado mais cedo. A verdade liberta.


Deixo para o fim aquilo que acredito ser o aspecto mais rico e central da confissão. Não é fazer e dizer uma lista de pecados, mas é sobretudo receber o perdão e a paz. Creio que há poucos dons que desejemos com tanta intensidade. Perdoar-nos a nós próprios e aos outros, ser perdoado por alguém é das experiências que mais nos constroem como pessoas. E a paz, no nosso coração, na nossa consciência, nas nossas relações. E sendo dons que Deus nos dá, então são-nos dados em modo superabundante. O sacerdote ouve os nossos pecados e faz de instrumento visível do acolhimento, do perdão e da paz que Deus dá.


Continuo sempre a insistir no facto de que não somos só pensamento. Somos palavras, gestos, toques, sons. Confessar-se só a Deus não nos ajuda a viver o perdão em modo completo e abençoado. Uma palavra de compreensão, ajuda e salvação pode ser muito forte no reconstruir e recomeçar a nossa Vida. Recomeçar, mais livres, mais perfeitos, é por isso que nos confessamos.

05 abril 2009

Semana Santa

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Hoje, Domingo de Ramos, começa a semana santa, na qual se celebram os acontecimentos centrais da fé cristã, a morte e a ressurreição de Jesus. É um tempo particular e forte, que tenho sempre a sensação que não vivo com a intensidade que deveria viver. Ao menos, este ano é muito desejo meu que possa ser um tempo de uma interioridade grande e proximidade de um mistério que me diz muito mais do que posso imaginar.


Acompanhar Jesus na dor, na entrega, na morte e na alegria da Vida é fazer uma viagem pelos meus espaços ausentes, onde não sou capaz de encontrar um rumo certo dos desejos que tenho de ser mais santo e mais perfeito. Sinto-me longe disso e quase me assusta tocar a perfeição de Deus, sabendo que isso implica mudar muitas coisas em mim.


Talvez o grande segredo seja um silencioso caminhar através de incompreensões, solidões e derrotas. Aquelas que assombram o nosso presente e o nosso futuro. Viver com isto presente faz tocar a terra na sua dureza e na sua beleza. Mas assim a Vida tem capacidade de ser verdadeiramente transformadora, sem limites, sem medos, sem egoísmos. Desejo muito ter uma Páscoa assim.


Boa Semana Santa!

03 abril 2009

Perdoar

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A experiência do perdão é algo que na nossa Vida experimentamos como uma das maiores oportunidades de começar algo novo. Vivemos sempre muito presos às coisas que nos entristecem, em nós e nos outros. E tantas vezes nos habituamos a considerar isto já um estado habitual. Impressiona-me como podemos conviver dias, meses, ou anos a fio com sentimentos que bloqueiam relações e não nos libertam.

Perdoar não é esquecer e é muito difícil recomeçar a unir laços que se romperam. Talvez pensemos que é ingénuo da nossa parte fazer tudo como se aquilo que ontem nos fez sofrer, não existisse mais. Contudo, o chamamento do perdão leva-nos a qualquer coisa parecida com isto.


Creio que uma história, quer individual, quer relacional que, a certo momento, vem tocada pelo perdão, não significa recomeçar do zero, mas agarrar no momento presente e fazê-lo semente de uma vida mais iluminada. Não podemos ignorar o mal que fazemos a nós ou aos outros. Mas chega um dia em percebemos que não vale a pena insistir na tristeza. Afinal a Vida merece muito mais, e nós merecemos muito mais.

02 abril 2009

Silêncios

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São tantos os momentos em que ansiamos poder parar, descansar, reflectir sobre o que andamos a fazer, tocar a profundidade da vida. Contudo, se bem que as correrias normalmente não ajudam a ter tempo para isso, quando temos essa possibilidade assustamo-nos.


Porque é que o silêncio atrai e assusta? Não há nada mais desejado do que querermos ter a vida entre mãos. Talvez a nossa grande tentação seja estar à altura de todos os acontecimentos. Por isso, sabemos todas as notícias e estamos na crista da onda nas novas tecnologias de informação. Mas é tudo ruídos, e a vida corre à nossa frente, sem termos sequer a capacidade de levantar os olhos e as mãos e lhe acenar um olá.


Se tivessemos pela frente três ou quatro dias, uma semana ou um mês desligados de tudo, não saberíamos o que fazer. Até arranjar pensamentos profundos para fazer durante uma hora não é fácil. Já estaríamos a programar coisas ou a pensar em acontecimentos passados. E o presente? Onde posso estar e como me posso encontrar? Desejo tanto poder ter um espaço em que respire ar puro sem me perguntar de onde sopra o vento. E não posso ter medo desse espaço.
 

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