29 novembro 2008

Esperar

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Começa amanhã o meu tempo preferido do ano litúrgico, o Advento. É um tempo próprio para não deixar de estar atento, é preparar-se para algo grande. Normalmente, quando temos algum encontro importante marcado, antecipamos esse momento vestindo o coração, encontrando coisas bonitas para dizer, vestimo-nos de outra maneira...

É significativo que a preparação do Natal seja assim longa, quase um mês. Neste tempo, sinto-me desafiado a levar sempre mais a sério aquilo que significa a espera e a certeza. Não seria razoável esperar indefinidamente algo que nunca poderá vir a acontecer. O Natal faz-me ter a certeza de que acontece já a manifestação de Deus na minha Vida, que verdadeiramente Ele chega até mim e me faz ser mais parecido com Ele.

O tempo da espera é esta grande metáfora de me dar conta de que estou sempre em caminho em direcção a algo que me está a ser dado continuamente. Estar atento é saber ver os sinais de perfeição, sentir esta atracção irresistível pela perfeição, acreditar que todos os dias estou mais consciente do que sou e do que tenho. E o mundo parece tão necessitado de beleza e ao mesmo tempo tão brilhante de presença.


28 novembro 2008

Dias de chuva

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Hoje está um daqueles dias de chuva, chá e cobertor... há sempre uma interioridade própria do tempo que vivemos. A chuva pode ser desconforto se estamos fora de casa, mas não há nada melhor que saborerar o bom que é estar dentro, e fazer do meu tempo uma qualidade oferecida a coisas que não distraem tanto.

Sem chuva não haveria fecundação da terra, faz trabalhar no íntimo, é uma oferta que comunica uma vida escondida. Nós precisamos da chuva como do ar que respiramos. De deixar que ela se faça silêncio e contemplação, adesão total àquilo que sou e sonho de modo completo.

Imagino que estes dias sejam os melhores para escrever e fazer poesia, é muito saudável ocuparmos o espírito com as nossas criatividades, termos tempo para expandir o melhor de nós e ficar acesos numa luz agradecida.

24 novembro 2008

Imagens de mim

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Creio ser hoje umas das principais características da nossa vida o facto de não encontrarmos facilmente uma única imagem que diga tudo sobre nós. Há imagens que definem bem um momento especial e importante, mas passa o tempo e fica colocado num álbum de memórias felizes. Ou imagens que gostariamos de arrancar das nossas paredes, mas acabamos por nos lembrar delas como momentos de crescimento, acontecido muito tempo depois.

Uma imagem diz o que posso ser agora, mas dificilmente pode dizer o que serei no futuro, a não ser que seja a expressão de um desejo que quero concretizar.

Uma imagem única de mim mesmo poder-se-ia encontrar sobretudo nesta dificuldade. Que o facto de não encontrar uma imagem definitiva me diga a certeza que sou mais do que aquilo que vejo e sinto, mesmo que sejam coisas gigantescas. Isto faz não ficar parado, querer desenhar traços mais concretos, mas feitos com uma paciência a toda a prova, mas que vão fazendo o que sou, com um caminho de beleza cada vez mais brilhante e séria.

23 novembro 2008

Testemunho

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Há muitas coisas que podemos desejar na vida, mas uma é verdadeiramente importante. Irradiar paz e felicidade. Não há ninguém tão interpelador no modo de viver a vida com profundidade do que aquelas pessoas que estão serenas, pacíficas, que não stressam, acolhem e têm sempre um sorriso a dizer perante as dificuldades próprias e dos outros.

Fascina-me o segredo destas pessoas. E acredito cada vez mais nisto: que a profundidade do olhar deles é feito através de um amor enorme por tudo o que acontece em nós, mesmo tudo, mesmo aquilo que não deveria nem daria jeito acontecer. Fico saudavelmente invejoso das pessoas felizes e dou-me conta de duas coisas.

Que podia ser mais com elas. E que já sou assim em muitas coisas. Para quê continuar a adiar a felicidade? Porque um salto deste tipo, arriscar-se a uma felicidade além do razoável e do calculado, também tem as suas consequências. Bem pequenas, porém, muito pequenas comparado com o que se pode viver a partir delas.

22 novembro 2008

Simplicidade

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Estava a começar este post e a dar-me conta de que já devo ter escrito mais vezes sobre este assunto. Acho que há sempre tanto a dizer sobre a simplicidade, porque identifico também grande parte do meu movimento espiritual neste desafio de descomplicar as coisas e ser mais básico na forma de encarar de vida.


É bom saber aquilo que fazemos e ter consciência das opções que tomamos, mas tantas vezes perdemos tantas energias em fazer demasiadas promessas ou a justificar aquilo que achamos que não está bem em nós e que, no fundo, não queremos mudar. A simplicidade tem uma cor clara, diz entre nuvens complexas uma palavra mais verdadeira que as outras.


Sou fascinado pelas coisas simples, não me perco demasiado em decorar espaços que ficam melhor vazios, para que possam entrar as pessoas e as situações sem ficarem perdidas em coisas que não sou eu. Na simplicidade lavamo-nos de imagens que não somos nós, fazemos as coisas bem e motivados com elas porque é bom sermos bons, com brilho no olhar.

20 novembro 2008

Dons oferecidos

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Hoje enquanto ouvia uma série de músicas, fui viajando por vários tempos e lugares há já algum tempo visitados e foi mesmo bom regressar lá e encontrar consolação e energia.

E fiquei a pensar em quem faz obras de arte: um livro, uma música, um filme, uma pintura... de como é fácil encontrar ressonâncias nos significados percebidos e não tanto nas intenções comunicadas. Acredito que o espírito humano é capaz das melhores coisas, e talvez por isso somos tão parecidos com Deus. Aquilo que criamos de eternamente nosso abre um espaço para que outras sensibilidades possam habitar e exprimir, sem palavras, desejos e concretizações que de outro modo seria impossível de dizer.

Somos capazes de coisas que vão muito além de nós próprios, vivemos algo como um espaço de comunicação de dons e beleza, que é uma pena que os guardemos só para nós. E em muitas coisas podemos ser verdadeiros artistas de sentido e consolação.

18 novembro 2008

Privilegiados

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Há um entusiasmo que nasce de reencontros. E agora nem é preciso esperar muito nem fazer promessas. Pensar o futuro pode ter tanto de cuidadoso e necessário como de desperdiçar energias quando o que está para acontecer vai muito mais além do que aquilo que se espera.

O amor escolhe por si os momentos e as formas, talvez seja isto que o torna irrestível e incapaz de definir. Quando se programa tudo, deixa de ser originalidade e criação e passa a ser um espaço determinado onde, afinal, existo só eu. Não há vida mais vazia do que aquela que é enchida de qualquer maniera. É preciso o espaço fundamental de pensar num gesto de abrigo e acolhimento.

Quem vive por amor, vive sem saber e ao mesmo tempo sabe tudo o que precisa. É um privilégio poder ver-se como imagem desenhada, poesia acabada, escultura viva. Que temos de temer, senão as coisas que queremos ter tanto para ficar ricos de nós, mas que ficamos assim tão pobres?

17 novembro 2008

Ver na verdade

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Recebi hoje pelo correio uma das prendas mais bonitas que me deram. Talvez por ser simples, vai directo ao coração e falou... um espelho pequeno, para me poder ver como sou. Raramente temos tempo para ver como somos, e sobretudo com a atitude de nos maravilharmos com a beleza que temos. Devíamos fazer isto mais vezes.

Este espelho não falou só de mim ou para mim, mas falou-me de alguém que é um gesto de verdade. Acredito cada vez mais que a vida se faz através dos outros e do que fazem em nós, tal como temos consciência que fazemos coisas importantes na vida dos outros. Reflecte não o que gostaria de ser, mas uma simples verdade de ser amado, aquilo que ninguém nunca me poderá tirar. Uma experiência destas vale mais que bibliotecas inteiras...

Obrigado, querida amiga, por te teres lembrado e me teres lembrado de coisas que só tu sabes mostrar, por seres como és. Uma imagem vale mais que mil palavras, dizem... quando não valerá a minha imagem? Uma força inacreditável de entrega e sonho capaz de caminhar pelos próprios pés.

16 novembro 2008

Maravilhas

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Não há dúvida de que somos abençoados... para quê continuarmos preocupados em olhar aquilo que não nos acontece, quando existem mundos de bênção e alegria entregues em cada momento? Roma é uma cidade dourada, que se faz um grande presente, entre caminhos de jardins e amizades. A contínua presença da oração e da proximidade, memórias que fazem parte de nós e que não deixam de aparecer quando têm que aparecer.

É preciso acreditar com todas as forças que não somos pequenos, temos tantas provas de que o amor não conhece limites nem criatividades pobres para chegar até nós. E porque o merecemos, para além das nossas impossibilidades.

Se conseguimos fechar-nos num mundo pequeno, é porque não sabemos olhar da melhor maneira, é porque, no fundo, não acreditamos no que podemos ser quando nos deixamos amar na profundidade. Crescemos além de nuvens e estrelas...

PS: Agradeço a Deus por tantas manifestações de amizade, oração e presença no meu aniversário. Alimentam e confirmam as minhas certezas! Obrigado pelas simpatias =)

14 novembro 2008

Tudo o que sou

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Tudo o que sou é segredo e inexplicação. Conheço o que não sou, desejo ser mais. Um gesto que me arranque desde dentro, me faça deslumbrante aos meus próprios olhos. Falar de conquistas são poucos passos possíveis, são janelas que abrem paisagens. A vida poderia ficar fechada numa redoma, intocável, sagrada. A quem prestaria adoração do desejo, mas não poria nela verdade de lama e pó.


Um caminhante é por definição alguém que se suja, alguém a meio termo, desprovido de tecto e altar. A ilusão de ter feito um mundo à minha medida cai como a chuva e mistura-se no mar das incertezas. É uma questão de olhar para além do positivo, de me encher de graça e eternidade.


A Vida é o maior dom que temos entre mãos, demasiado poderoso para ser intocado, espalhado em espelhos que fragmentam a minha imagem, quando uma só verdade existe, a mesma de sempre, o fogo que arde em casa quando chego de viagem, acabado de me perder, consolado por me encontrar.

13 novembro 2008

Riqueza interior

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Se fizer uma história dos meus momentos significativos, em que descobri algo mesmo importante sobre a amizade e as relações, ou sobre mim mesmo, vejo que estas memórias vêm associadas a lugares. A nossa vida tem o seu espaço e as coisas bonitas e grandes da vida acontecem em paisagens escolhidas ou que parece que foram feitas de propósito para nós, naquele momento.


Quando procuramos um espaço para encontrar a nossa verdade amada, precisamos também de rituais e santuários. Um lugar onde o fascínio aconteça, onde algo de eterno tenha a nossa carne e fale a partir das nossas coras.


E este espaço de verdade acontece em nós. Se temos verdade, e é certo que a temos - tantas vezes nos esquecemos disto - o espaço da verdade é de uma beleza quase infinita, insuportável até, se comparada com as pequenas ruas por onde vamos gastando e arrastando a beleza. Cuidar este nosso espaço é acreditar nele e maravilharmo-nos com ele. Acontece tanto em nós quando estamos dispostos a que aconteça!

10 novembro 2008

Sozinho nunca

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Não seria preciso fazer um inquérito para saber qual é a coisa que todos mais tememos. A solidão é algo que tentamos nem sequer pensar como horizonte dos nossos dias. É demasiado assustador e, felizmente, acaba por não ser sempre uma realidade presente, mas existe como uma espécie de fantasma.


Muitas vezes, a forma de evitar sentimentos é enchermo-nos de cores artificiais e ruídos à nossa volta. Talvez o medo da solidão seja um modo de nos afastarmos de nós próprios e não querer dar atenção ao que somos e fazemos verdadeiramente.


Se acreditássemos mais profundamente que somos capazes de contruir à nossa volta espaços de relações de qualidade, em que não fôssemos máscaras, mas verdade. A nossa verdade é bonita, e essa é a nossa melhor companhia. A partir dela os outros e o mundo encontram um desafio para a entrega. Porque a nossa qualidade é bonita, cheia, nunca sozinha, desde o início.


08 novembro 2008

Ser criança

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Acabei de chegar há pouco a casa e pus-me a pensar numa coisa que acabei de ver, por baixo de uma galeria, por onde passava com alguns companheiros. Num canto, estava um grupo de pessoas, emigrantes em Itália, de cócoras e, no meio delas um cartão grande no chão onde punham e passavam rapidamente algumas notas e moedas entre eles. Era um jogo a dinheiro e enquanto o faziam, olhavam para todos os lados, para não serem apanhados... enfim, infelizmente, isto acaba por se ver muitas vezes, e nem posso julgar quem já de si tem tantas dificuldades na vida, e tem que andar a vender coisas pelas ruas e depois, tentar ganhar mais algum...



Mas o facto é que pareciam crianças, foi assim a primeira impressão que tive, um jogo de esconde-esconde, cuidado que vem lá o professor... E numa aparência de jogo infantil, jogavam-se coisas muito sérias... e tristes.


E tantas vezes na nossa vida não estamos atentos à seriedade que pomos naquilo que fazemos. Fazer da Vida um deixar passar, não se preocupar muito. Não quer dizer que sejamos pessoas sizudas todo o tempo, aliás, isso é o contrário de uma seriedade profunda. É uma alegria que tem cores de entrega, um saber o que temos entre mãos e o querer fazê-lo brilhar, todos os dias. E vida pode ser um jogo, e sério, mas não vale a pena esconder o que fazemos, aos outros ou a nós mesmos.



06 novembro 2008

Oração

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Normalmente não falo muitas vezes de oração. Mas hoje sinto-me movido a isso. Acaba por ser o nascimento do registo de um dia, de uma experiência, de toda uma vida. A oração é tempo gratuito e talvez seja isso o motivo mais significativo do mistério que normalmente envolve esta experiência.


É um encontro de duas vontades, uma delas é abertura plena e desejo, a outra é tentativas de sair de si e do ritmo dos probelmas e das alegrias. É entrar num mundo sem horas, nem agendas, nem programações. Tem muito de eternidade, um gesto trazido a coisas pequenas, um silêncio muitas vezes que é respiração e abandono.


Sim, o mais difícil na oração é pressentir que se pode perder o pé num oceano imenso. No fundo é a luta com as nossas seguranças e com aquilo que queremos, às vezes de forma egoísta. Mas uma experiência profunda e constante de estar diante de Deus como sou, todo e ao mesmo tempo partido, é inevitável para quem ousar confiar desta maneira. E pouco a pouco, tudo se tranforma.

04 novembro 2008

Esperar dias melhores?

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Às vezes não é mesmo nada fácil gerir o tempo. Quando os acontecimentos do dia decorrem normalmente e só o facto de acontecerem já tiram o tempo disponível. Nem sequer passa por escolher passar ou não tempo de qualidade ou deixar de perder tempo com coisas que se podem deixar para depois. Tudo faz sentido, mesmo as alturas em que temos pressa de ter tudo acabado.

Somos também donos do nosso tempo e do crescimento interior e no que fazemos à nossa volta com ele. Mas também o nosso tempo se faz de coisas urgentes. No fim de contas, vamos tendo a experiência que a nossa Vida tem altos e baixos de actividades.É preciso não perder a serenidade e acreditar profundamente nos resultados que temos quando nos deixamos conduzir pelo bem.

Porque o tempo é a oportunidade de fazer revelar mistérios e talentos, uma obra prima moldável com as nossas mãos e com a criatividade de um artista cheio de inspiração.

02 novembro 2008

Ter o destino nas mãos

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Parecem coisas difíceis. Mas o essencial é tão inacreditavelmente simples, como uma iluminação que diga a certeza do nosso futuro. Mesmo sem tirar as dúvidas, mas agarrando a alma desde dentro. A experiência de não saber mais nada senão isto: que acontecem momentos em que temos a consciência que fizemos opções que mudaram completamente a nossa vida. Ou a consciência daquele dia em que ficámos atrás, em que deixámos de dizer sim, e não saltámos no escuro e a nossa Vida ficou mais pequena. Seria tão bom viver em dias grandiosos, dia-a-dia, momento a momento.


Quando o sol chegou aos subúrbios da cidade
Anunciando mais um dia igual aos outros
Ele acordou e pressentiu
Que hoje o seu dia ia ser diferente
Sentiu nos lábios o sabor
Dum sorriso finalmente triunfante
Escorregou da cama
E contemplou o espelho sorridente

Acabou-se a incerteza dos seus passos em volta
De um sentido que ele nunca encontrou
Pela primeira vez tinha o destino nas mãos
Desta vez ele não duvidou

Sentiu-se invadir por uma estranha lucidez
Que o conduzia pelas calhas do passado
Serenamente descobriu
Que afinal tudo tinha o seu sentido
Levou o olhar à janela
Lá em baixo a rua estava abandonada
Levantou o fecho
E de repente alcançou a liberdade

Acabou-se a angústia dos seus passos em volta
Dum amor com que ele apenas sonhou
Pela primeira vez tinha o futuro nas mãos
Abriu a janela e voou





Passos em volta - Mafalda Veiga canta Jorge Palma

01 novembro 2008

Santidade

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Hoje é a festa de todos os santos. A Igreja celebra não só os santos que foram proclamados ao longo dos séculos, mas também é o dia em que se recordam todos os exemplos de vida cheia de Deus dos que viveram durante a história e que não chegaram aos altares. É o dia em que se acredita plenamente no homem. É também o dia em que nos lembramos das pessoas que marcaram a nossa caminhada de fé e crescimento humano e espiritual, que são para nós exemplos de santidade.

Este dia faz-nos recordar que a santidade não é algo distante, mas perfeitamente possível, à qual estamos chamados continuamente. Por sermos capazes de alargar as nossas energias de amor e doação até ao infinito, de sermos mais que os nossos limites, de sermos verdadeiros e coerentes com aquilo que acreditamos ser o bem.

Por isso, gosto tanto desta festa. É o dia em que rezo para ter a certeza de poder um dia chegar lá, de poder ter aquela convicção, alegria, paz e humildade que caracteriza os exemplos palpáveis que tenho dos amigos de Deus. E são muitos... porque não eu também?

 

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